Formas de motivação da equipe profissional para retomada da empresa após a crise econômica e relação de trabalho entre patrão e empregado a partir da reforma trabalhista foram os principais assuntos abordados por Raul Candeloro em entrevista ao Diário na última sexta-feira.
Fundador e diretor da Editora Quantum, ele é autor de mais de 15 livros sobre vendas e realizador de palestras e workshops sobre gestão, liderança e lucratividade. Formado em administração de empresas e com MBA pela Babson College, nos Estados Unidos, Candeloro foi um dos palestrantes da 2ª Convenção do Varejo da Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Maria (CDLSM), realizada no Recanto Maestro, em Restinga Seca.
Veja a seguir a íntegra da entrevista:
Diário de Santa Maria – Como vê o futuro do cenário econômico nacional para pequenas e médias empresas?
Raul Candeloro – O cenário para 2018 é bem mais positivo do que os dois últimos anos. No entanto, nem todos estão bem preparados para aproveitar essa onda de retomada. Muitos sofreram intensamente pela crise e não estão bem financeiramente, estão com equipe desmontada, ou não estão bem estruturados. É como um barco cheio de furos, em que tem que tampar alguns deles, se você terá as oportunidades, mas não sairá do lugar.
Diário – Quais seriam as medidas para a retomada?
Candeloro – Eu recomendaria, primeiramente, uma pesquisa forte de engajamento da equipe. Preciso dela muito motivada. Além disso, descobrir os principais pontos que estão atrapalhando a minha equipe e trabalhar como líder em cima disso. A cabeça do empresário também tem que estar para cima. Não vai haver retomada se a tua equipe está para baixo. Segundo passo, eu faria uma pesquisa sobre clientes. Quantos estão vindo na empresa, quantos deles estão comprando, e qual é o tíquete médio. São índices que estão sobre nosso controle e tem várias possibilidades para melhorar esse número. Depois, a dica é uma campanha de reativação de clientes inativos. Também há possibilidade de trabalhar mais estrategicamente com precificação, mix de produtos e serviços, investir em propaganda e etc... mas isso é secundário. Primeiro, eu arrumaria a casa, porque isso melhora o fluxo de caixa e traz resultado e, a partir daí, sim investir em outras possibilidades, se você quiser.
Diário – Quais seriam os principais incentivos para manter a equipe motivada?
Candeloro – Eu defendo que todos tenham salário fixo mais comissionamento, com comissão por resultado individual, e ainda sugiro bonificação por resultados da empresa. Ou seja, a remuneração composta por salário fixo, cerca de 70% da remuneração total, mais comissionamento individual que compõe o resto, mais bonificação para equipe toda, incluindo ainda quem não é de vendas, como estoque, caixa, ou do departamento financeiro. Todos devem participar, mesmo que seja uma remuneração simbólica. Não precisa ser muito dinheiro. Também indico a compensação não financeira, como levar os colaboradores para um jantar, para o cinema, para um jogo de futebol, etc... São formas de reconhecer a equipe que têm uma força muito poderosa e que, às vezes, custa até menos do que a compensação em dinheiro e tem um impacto emocional maior.
Diário – Como vê a relação de colaboradores após a reforma trabalhista sem a presença do sindicato?Candeloro – Eu acho que todos querem a mesma coisa, uma equipe engajada, produtiva e reconhecimento do profissional. Os empresários inteligentes vão claramente usar isso pro bem. Nos Estados Unidos, se uma mulher quiser trabalhar terças e quintas, das 8h às 11h da manhã, por exemplo, porque nesses horários o filho está na escola, ela pode. Aqui no Brasil, é uma complicação imensa, porque trava o processo. Aqui o empregador, ao contratar um funcionário, ele tem alta despesa porque paga o salário e os encargos. Parece que o trabalhador está sendo prejudicado, mas, na verdade, a reforma lhe dará uma flexibilidade e mobilidade gigantescas, já que tem muita gente que não quer trabalhar o dia inteiro. Tem gente que só que trabalhar no final de semana, assim como tem gente que não quer. Não é o sindicato que tem que decidir isso. Se eu tenho um adulto inteligente negociando, deixa eles negociarem. Está na hora de mudar isso. As pessoas já evoluíram suficientemente para permitir um relacionamento diferente entre patrão e funcionários.
Diário – Maior liberdade e flexibilidade podem resultar em produtividade?
Candeloro – Com certeza. Se eu quero trabalhar só de manhã, por exemplo, e eu consigo um emprego que só trabalho de manhã, eu vou ser mais produtivo, claramente. Caso contrário, ou eu não trabalho, ou eu vou me arrastando para trabalhar de tarde porque eu não queria estar aqui, ou eu tinha outra coisa para fazer. Ou outro exemplo: mães de filhos pequenos, é muito difícil de dar atenção à criança e trabalhar. Deixa na creche, deixa na avó? Por que, se eu tenho flexibilidade ou liberdade? Ou ainda, se eu quero trabalhar em dois ou três lugares diferentes ao mesmo tempo porque me é conveniente por algum motivo. Tem uma legião de jovens que não consegue trabalhar porque a legislação trabalhista é burra. Ela tenta proteger, mas na verdade cria obstáculos. É uma dificuldade de ter estagiários, de ter gente nova na empresa hoje em dia. Todo esse ciclo é complicado, é muito pesado. Talvez aquelas pessoas que estão acostumadas com benefícios reclamem, mas isso porque podem estar perdendo algo e não estão defendendo interesse da maioria, mas sim os seus próprios interesses usando isso como discurso, o que não é verdade.